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“Aqui, a gente perde nossa identidade. Aqui no hospital é só Mãe de Diana”. Foi assim que Dona Cândida, de quarenta e dois anos, começou a narrar sua experiência no Centro Pediátrico do Câncer, CPC. Vinda de Juazeiro do Norte, ela trouxe a filha Diana, de seis anos, para tratamento na capital. Para Cândida, o olhar atento de mãe a fez perceber que a menina estava doente. O cansaço e a apatia da filha a fizeram levá-la ao médico e descobrir, em julho de 2018, o diagnóstico de Leucemia Linfóide Aguda (LLA).

A descoberta da doença da filha mais velha veio quando a mais nova, Sarah, tinha apenas sete meses de vida. A gravidade da doença de Diana, no entanto, exigia que o tratamento fosse feito em Fortaleza, a 528km da cidade da família. A mãe conta que a decisão de vir para a capital foi imediata, apesar da grande mudança que iria representar para a família.

Inicialmente, seu esposo trouxe Diana, enquanto ela e Sarah ficaram em Juazeiro. Dois meses depois, a família toda estava em Fortaleza. Além da dificuldade de estar longe de uma das filhas, para Cândida, separar as duas irmãs, que são muito apegas e unidas, foi igualmente doloroso neste momento inicial. 

Desde julho, início do período de internação de Diana, a família se divide entre o hospital e a casa de parentes que moram na capital, onde estão hospedados. Enquanto a mãe fica no hospital, acompanhando o tratamento da primogênita, o pai cuida da filha mais nova, que agora tem um ano.

 

Duas vezes ao dia, nos horários de visitas, o pai e Sarah vão, de ônibus, até a Rua da Esperança, onde Cândida os espera na frente do Centro Pediátrico do Câncer. É durante os trinta minutos de visita que o casal se encontra e que Sarah, que ainda mama, é alimentada. Esse é o tempo, também, que Cândida passa distante da filha, diariamente. Durante todo o resto do dia, ela está ao lado de Diana. 


Logo após a descoberta da doença, a mãe conta ter decidido fazer de tudo para que a filha fosse curada e para que o tratamento fosse o menos massacrante possível. Desde então, ela tenta driblar as dificuldades como pode: a saudade dos amigos e da família, por exemplo, que estavam deixando Diana abatida, é amenizada com ajuda da Internet.

 

Agora, Cândida já se prepara para lidar com o momento mais temido pela filha, o de perder os cabelos por conta da quimioterapia. Ela conta que, quando o dia de raspar a cabeça chegar, vai sentar na cadeira antes da filha, para mostrá-la que a vaidade não é nada frente à luta que estão travando.

 

Apesar da situação delicada de ter uma filha em tratamento contra uma doença grave como o câncer, e, ao mesmo tempo, estar longe de casa e da família, a mãe afirma nunca ter chorado na frente de Diana. Para ela, a filha precisa que ela seja forte e que transmita isso. Por isso, guarda para si mesmo sua dor.

 

Por sua vez, Cândida encontra sua fortaleza na rede de apoio que construiu dentro do CPC. Além de ter sido bem recebida pelos profissionais, a amizade com as outras mães, que estão em situações semelhante, faz com que ela se sinta parte de uma nova família. É esse apoio, segundo ela, que faz com que a situação não pareça tão difícil, e que siga tendo forças para lutar ao lado da filha.

A dor que não sai no jornal

O quarto 103

A Jaciara é a mãe que está em Fortaleza há menos tempo. Faz um pouco mais de um mês que ela e o Iarley, de 5 meses, saíram de Flores, distrito de Russas, a 165 km da capital. Diagnosticado com má formação congênita dos pés, mãe e filho tiveram que vir às pressas para o HIAS. O motivo: o menino agora também tem hidrocefalia.

 

Jaciara não pensou duas vezes antes de vir de Flores para Fortaleza (inserir sonora dela - áudio arquivo Sonora Jaciara Marcolino - D.I. 1:13 D.F. 1:28). Seu filho precisava urgentemente de cuidados especiais. Largou o trabalho de agricultora, família, a filha Iarla, de 8 anos. Tudo em prol da saúde do pequeno Iarley. Não podia correr o risco de perder seu filho recém-nascido.

 

Para o futuro? Jaciara docemente afirma que não quer nada demais. Só a volta para a casa, ficar com a família, matar a saudade da filha e que Iarley tenha muita saúde. E ele vai ter! (inserir sonora dela - áudio arquivo Sonora Jaciara Marcolino - D.I. 3:28 D.F. 3:40)

 

Aqui em Fortaleza, ela conta com o apoio do HIAS e da companheira de quarto Charlene da Silva, de Aracoiaba, a 73 km da capital. Essa outra fortaleza veio para tratar um câncer no cérebro da filha Simone, de 14 anos. Há quase 7 meses no hospital, Charlene já pôde voltar algumas vezes para a sua cidade e rever os outros dois filhos que ficaram.

 

Sobre o maior desejo? Mãe e filha compartilham do maior desejo: que a filha seja doutora e volte a estudar o quanto antes. A vida da adolescente, interrompida por conta da doença, tem planos de voltar a ser melhor do que nunca.

 

Cada uma com as suas vidas e famílias, Jaciara e Charlene agora estão unidas em prol de um bem maior: a saúde de seus filhos. No quarto 103, o hospital ganha o amor dessas mulheres, e a expectativa na melhoria dos pequenos pacientes.

“Aqui, a gente perde nossa identidade. Aqui no hospital é só Mãe de Diana”

 

—  Cândida, 42

PAIS QUE VÊM

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Enquanto conhecíamos a história de mães que abdicavam de tudo para vir à Fortaleza acompanhar os filhos no tratamento de doenças crônicas, encontramos Lisboa. Esta é sua trajetória.

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