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O APOIO FINANCEIRO ÀS MÃES VINDAS DO INTERIOR

A vinda para Fortaleza para tratamento médico dos filhos não impacta apenas o emocional das mães. Elas, vindas geralmente de pequenos municípios do interior do Ceará e dos estados vizinhos, lidam também com o impacto financeiro que a mudança causa. Deixar o trabalho costuma ser a primeira ruptura com a antiga vida para as mães que trabalham.

 

As mães se vêem forçadas a se afastar dos empregos para se dedicarem completamente ao cuidado dos filhos. A advogada Amanda Gomes esclarece que é possível para estas mulheres tentarem, judicialmente, uma licença trabalhista durante o período do tratamento dos filhos. Ela explica, no entanto, que por desinformação e por falta de acesso, poucas o fazem.

 

O início da jornada é, segundo estas mulheres, o momento de maior dificuldade financeira. Em raros casos, a família possui fundos para bancar os custos do começo do tratamento. Na maioria das vezes, no entanto, não é assim. Jovelina dos Santos, de 24 anos, vendeu a casa em Monsenhor Tabosa para vir para Fortaleza com o filho Pablo, que sofre de linfoma e câncer no estômago. Já Rivanilda da Silva, de 23, recorreu à sua comunidade em Missão Velha para trazer seu Ryan, que trata um neuroblastoma, para a capital.

O poder público de seus municípios de origem ajudam, geralmente, com o transporte do paciente e de seu acompanhante até o centro de saúde onde será feito o tratamento, que é, por sua vez, oferecido no Sistema Único de Saúde, SUS. No entanto, outros gastos como alimentação e vestuário, devem ser cobertos pela família. 


Já em Fortaleza, estas mulheres recebem apoio financeiro das casas de apoio onde geralmente se hospedam. Os abrigos oferecem, além de alojamento, medicamentos e alimentação. Em alguns casos, elas contam com o apoio de seus parceiros, que continuam no interior trabalhando. No entanto, é no Auxílio Doença, do que elas encontram mais segurança.

 

A ajuda do Governo Federal implica no recebimento de uma quantia mensal durante o tempo que durar o tratamento, e torna-se a principal fonte de renda das mulheres nestas situações. Amanda Gomes explica que para entrar com o pedido do benefício, não é necessário um advogado, o próprio requerente pode ir direto no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) com os documentos necessários, que podem ser consultados no site do INSS.

A esperança de Jovelina

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A Jovelina é mais uma dentre tantas outras mães que saem do interior para acompanhar os filhos no tratamento na capital. E é isso que nos animou. Ela estava conversava com outras duas mães na entrada do Lar Amigos de Jesus enquanto o visitávamos. Longe de suas casas, essas mulheres se tornam as únicas companhias uma das outras para além dos seus próprios filhos, médicos e enfermeiros. 

Paramos para entrevistar a nossa fonte. Mais uma que singularmente nos emocionaria com a sua história de vida e abnegação para acompanhar o filho do interior para cá. Tínhamos perguntas prontas para fazer a cada deixa que ela nos desse. Ela começou a falar, e todas as nossas reações eram de surpresa, admiração e contemplação. Tornou-se a dona do áudio e do vídeo.

A gente não precisou de nada. Jovelina era ao mesmo tempo repórter e entrevistada. Canetas e cadernos caíram de nossa mão. Nossa fonte documentava tudo através de uma linguagem simples, porém carregada de emoção. As lágrimas queriam cair, mas o seu sorriso no rosto nos fazia ter algo que não tínhamos há muito tempo: esperança.

 

 

Ela veio com o filho Pablo, de 10 anos, em 2016, para tratar um linfoma do garoto. Há 2 anos, mora no Lar Amigos de Jesus, de onde faz a mesma rotina semanalmente: vai para o CPC de manhã e volta para o abrigo ao entardecer. Vinda de Monsenhor Tabosa, no Sertão Central, ela largou trabalho, uma filha de 3 anos, a Celina, família e toda uma vida no interior. Tudo isso em nome do amor pelo filho e da luta contra a doença.

A vida pregou peças na vida desta mãe. Em outubro, ela e Pablo estavam prontos para voltar para Monsenhor Tabosa. Quase curado, o menino fazia planos junto com sua acompanhante. Retomar a vida deixada para trás era o maior sonho dos dois. Mas a metástase adiou os planos. Desta vez no estômago, a luta teria que recomeçar, agora mais agressiva.

Jovelina, porém, com a doçura e a experiência de uma mulher no auge dos seus 24 anos, nos disse algo muito simbólico: “Deus só dá até onde nós aguenta”. A fé é determinante para que essa mulher possa ser uma Fortaleza tão importante para Pablo. Arrepiados e surpresos com toda a história de abnegação e batalha, nós encerramos a entrevista, até que surge o filho.

Ele chega suado, timidamente chamando por Jovelina. Parecia querer saber quem conversava e filmava a sua acompanhante. Ele, como Fortaleza de sua mãe, rapidamente entende que se trata de uma entrevista e brinca com a nossa equipe. Entre risos, corridas e brincadeiras, a mulher abraça o garoto e diz: ‘Ele é meu lutador, meu vencedor”! 

Jovelina, você também é tudo isso! O Pablo precisa de ti para ficar bem! E nós precisamos de histórias como a sua. Para além do jornalismo, a sua humanidade nos transforma.

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Explore a trajetória de Jovelina

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Mãe de alma

Mãe. Uma palavra tão pequena para o grande significado que ela carrega. Há várias formas de ser mãe, todas elas envolvem amor e acolhimento. Delaine dos Reis não teve filhos biológicos, ela não é do interior. Vive em Fortaleza, vive para ser uma fortaleza a todos que recorrem a ela. Seus percursos não envolvem grandes viagens de ônibus, são outros. Ela não deixou uma cidade para trás, ela se doa todos os dias.

Delaine não teve que se adaptar a uma nova rotina, mas adapta direitinho o seu coração para acolher todo mundo que chega a Casa do Menino Jesus, instituição não governamental que ajuda mães e filhos que vem do interior para tratar doenças crônicas. A residência vermelha e tímida, atrás de uma árvore encantadora e forte, no centro da cidade, está Delaine, coordenadora da instituição, e outras mães que se fortalecem juntas para alcançar a cura dos seus protegidos.

 

Às três da tarde de mais um dia cansativo da semana, depois de sair atrasada do trabalho, já estava exausta de pauta. Quando marquei com Delaine, marquei com a coordenadora de uma instituição, seria uma fonte oficial, uma rotina da apuração. Começamos a entrevista, com as perguntas mais básicas, mas não eram respostas assim que a mulher me dava, ela apertava as mãos enquanto falava - sinal de quem tem grandes lutas diárias. O seu olhar dizia tudo, ela não podia se render, falava com o racional, mas era notório sua emoção a falar de cada pessoa que passava por ali, mães e filhos.

 

Delaine não estava apenas para me contar histórias. Ela era a própria história. A mulher, que vive na instituição com as mães e filhos, pensa em cada um, escuta cada um. Ama todos. Os que passam anos, meses, semanas, ou só dias, todos têm seu espaço no coração racional/emocional da mulher. - Nossa entrevista foi parada algumas vezes, quando aqueles já lutam tanto desde cedo buscavam um chamego de Delaine.

 

Delaine dos Reis é coordenadora da Casa do Menino Jesus, uma organização não governamental, que acolhe mães e filhos que vem do interior tratar doenças crônicas em Fortaleza. A instituição se mantém através de doações, bazares e campanhas. As mães chegam ao abrigo encaminhadas pelas secretarias de saúde de municípios do interior. O transporte até a capital geralmente é financiado pelas prefeituras.

 

Em Fortaleza, mães e filhos podem ficar nas casas de apoio enquanto durar todo o tratamento. Perfil das mães: São mães, carentes, que vem do interior do estado que trazem seus filhos, ou netos ou sobrinhos para tratamento aqui na Capital. São pessoas que não tem o poder aquisitivo para pagar uma hospedagem e que não tenham famílias. Então elas são encaminhadas pela Secretaria de Saúde dos Municípios delas ou pelas assistentes sociais dos hospitais para ficarem na instituição. Elas ficam, a partir do momento que elas entram, por tempo indeterminado.

 

Primeira parada: Localização: R. Gonçalves Lêdo, 1535 - Centro, Fortaleza A Casa do Menino Jesus tem 35 leitos. Mas o coração sempre dar um jeitinho de abrigar mais um! -No sistema de rotatividade, a instituição recebe mais 1040 pessoas. Ou seja, são aproximadamente 520 mães que se deslocam para Fortaleza.

 

Segunda parada: R. Ildefonso Albano, 3052 - Joaquim Távora Lar Amigos de Jesus. Em outro bairro da capital, há outro lugar acolhedor para mães e filhos. No Joaquim Távora está o Lar Amigos de Jesus. A organização foi criada em 2009 e desde então ajuda essas pessoas. Com comida, remédios e transporte até os hospitais.

 

A irmã Conceição é a coordenadora da instituição, é a ela que as mulheres recorrem para desabafar e buscar forças. O Lar Amigos de Jesus oferece oficinas de artesanato para as mães, uma oportunidade de garantir um sustento. O apoio entre as mães é essencial para ajudar essas mulheres nesse momento tão difícil, além disso é oferecido acompanhamento psicológico para elas.

 

Delaine e irmã Conceição, duas mulheres que não tem filhos biológicos, mas adotam vários filhos e filhas de alma. Lutam juntos com as mães pela cura dos pequenos. As duas são chefes de uma grande família que se uniu em Fortaleza e juntas fizeram outro forte entre si, uma corrente de apoio e de esperança. As duas precisam ser fortes por todas.

 

“Eu não posso desmoronar, se eu desmoronar como vai ficar a outra mãezinha que precisa de mim, que está lutando pela cura do filho.” As mulheres lidam com a dor, mas não falam apenas dela, esperança é o que buscam. Para isso, desejam também melhorar a condição dos moradores da instituição.

 

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Conheça mais sobre a história de Delaine

Empatia: o apoio entre as mães

Dentre as várias definições de família no dicionário, destaca-se o grupo de indivíduos com qualidades ou particularidades semelhantes. Pelo senso comum, entendemos por família uma grande rede de apoio, um porto seguro para momentos tristes e felizes, independentemente da situação.

 

Mas e quando precisamos abandonar tudo, inclusive a nossa família, para cuidar de um só parente? Essa é a situação de milhares de mães que saem todos os dias do interior do Ceará para vir para Fortaleza cuidar dos filhos que têm doenças crônicas. E o que fazer ao chegar aqui? Como ter um apoio?

 

Essas mulheres aparentemente têm como companhia apenas os seus filhos, que estão vulneráveis pelas suas doenças. A saudade da família hoje é diminuída com chamadas de vídeo e conversas via redes sociais. Mas elas precisam de mais. E aqui na capital, as mães conhecem outras fortalezas que passam por situações semelhantes.

 

A rede de apoio entre elas é fator indispensável no tratamento dos filhos. Passando por situações parecidas, elas dividem dores, angústias, desejos e sonhos, além dos cuidados agora compartilhados entre todos. Mãe e filho juntam-se a milhares de outros na mesma configuração e criam uma grande família.

 

É notável o quanto elas gostam umas das outras. A empatia reina. Em situações de fraqueza, quem antes não passava de uma estranha, agora passa a ser quem ampara a mulher que desaba ao ver o filho sofrendo. Unidas em prol do amor e da luta, elas criam forças para repassar para suas crianças.

 

Focadas apenas nos filhos, essas mulheres se ajudam. Valorizam-se. Também são mulheres, embora a condição de ser mãe pareça anular quaisquer características que as definam como tais. A maquiagem, a roupa que lhe deixe bem, os relacionamentos. Estão muito vivas, e se animam. Fazem planos juntas, de irem a festas, de reverem esposos, namorados, flertes do passado. Retomarem o seus trabalhos.

 

Elas compartilham pequenos sonhos entre si. O maior deles: sair pela porta da frente dos hospitais e nunca mais voltarem. A maior felicidade para essa família de fortalezas é ver uma mãe indo embora com o seu filho. Paradoxal, esse sentimento não precisa ter nexo. Precisa ser sentido. E com lágrimas nos olhos e um largo sorriso no rosto, elas querem muito dar adeus umas às outras, é o maior sonho delas. Acima de tudo, a cura traz de volta a mulher que por muito tempo fora só mãe. A vida voltará ao normal.

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